sexta-feira, 13 de julho de 2007

Lidere primeiro a si mesmo

10 de julho de 2007 - Sabe quando você está angustiado por não conseguir integrar os membros da sua equipe e alcançar os resultados desejados? Ou quando não consegue obter de outro departamento o que ficou combinado e sua área está prejudicada? Quando seu filho parece andar fazendo tudo para lhe contrariar? E, ainda por cima, quando você não está conseguindo equilibrar sua vida profissional com a tão sonhada qualidade de vida?

O que está em questão é a sua competência como líder. Mas quando se pensa em liderança, a maioria da literatura e dos programas de treinamento parte do princípio de que temos de nos capacitar para liderar... os outros! Ensina-se a como comandar os outros, como motivá-los, como ser um chefe melhor, como se relacionar melhor com pessoas difíceis, com os filhos, etc. Sempre os outros, como se o foco da liderança residisse nos liderados.

Nada de errado em tentar liderar melhor os outros. O problema é que técnicas e receitas de liderança não surtirão o efeito desejado se você não adquirir uma competência fundamental para o seu sucesso como líder: antes de pretender liderar os outros, aprender a liderar a você mesmo.

Importante que você adquira a atitude de liderar-se. Isso implica em liderar suas emoções, seus ímpetos, suas deficiências e saber suplementá-las com pessoas de sua equipe ou com parceiros na sua vida pessoal. Mas isso só será possível se você tiver uma elevada dose de auto-conhecimento.

Por exemplo, se você se conhece bem e já sabe que é do tipo executor, que não planeja muito as ações e de certa forma atropela as circunstâncias no afã de realizar os resultados que deseja, nada melhor que ter em sua equipe uma ou duas pessoas que sejam mais do tipo planejadoras e contrabalancem essa sua característica pessoal.

Mas se, pelo contrário, você for um líder que prima mais pelo planejamento detalhado e não está conseguindo realizar as metas que são esperadas de sua equipe, contrate pessoas mais realizadoras, do tipo artilheiro, aquelas que fazem gols e garantem os resultados do time, mesmo que não sejam tão qualificadas como você gostaria.

Se você não tiver consciência dessa característica pessoal, provavelmente a tendência é a de contratar pessoas que ajam do mesmo jeito que você, pensem de forma parecida e sejam feitas à sua imagem e semelhança. A conseqüência é um time de atropeladores criticado pelas outras áreas da empresa porque está sempre demandando coisas que elas não tiveram tempo para se preparar; ou um time de planejadores que sempre está correndo atrás das metas pactuadas que não conseguem atingir e criticado pela diretoria que vê esse fato se repetir ano após ano.

Nesses casos, o problema não está em como motivar os outros nem na falta de técnicas de liderança. O problema reside na falta de complementariedade das características dos membros de sua equipe. Competências complementares são a chave do alto desempenho de um time. E também na maioria dos casais bem-sucedidos. Tudo começa pela consciência do líder sobre seus pontos fortes, suas fraquezas e como complementá-las. Mesmice não rima com competitividade. Diversidade, sim, rima.

O líder precisa aprender a liderar a si próprio também no que diz respeito a suas emoções. Isso se revela com clareza na hora de dar feedback a membros de sua equipe ou a familiares. Se você tem o chamado pavio curto e explode com facilidade quando algo não está indo de acordo com o que deseja, importante ter consciência disso e se disciplinar para avaliar o desempenho dos outros ou para tentar ajustar o comportamento dos seus liderados, em vez de simplesmente dizer tudo o que vem à cabeça e destruir a auto-estima dos que o cercam.

Aprenda a reconhecer o que outros fazem de correto, valorize suas pequenas vitórias, use o seu ímpeto e arroubos emocionais mais nos momentos de feedback positivo, quando couber. Outra situação que exemplifica a importância de você liderar a si mesmo e ter elevado grau de auto-conhecimento é dado no caso de você ter dificuldade em cumprir prazos, sempre deixar os compromissos assumidos para a última hora.

Se você for assim, delegue as tarefas para os integrantes da sua equipe com máxima antecedência possível para que possam fazê-las antes do prazo. Uma atitude assim pode evitar que toda a equipe seja obrigada a fazer tudo às pressas. Se você não faz antes, pelo menos delegue para outros fazer.

Liderança não é uma questão técnica, mas de atitudes e posturas. Atitudes perante outros, mas também perante a si mesmo. A disciplina 1.0 da matéria liderança deveria ser: Antes de liderar os outros, aprenda a liderar a si mesmo. Mas isso não se ensina em escolas...

Gazeta Mercantil, Vida Executiva, César Souza, 10/07/2007

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