quarta-feira, 25 de julho de 2007


 
E Lula encontrou a classe média...
Por Valéria Barini De Santis *

Finalmente, na última sexta-feira 13 a classe média brasileira teve uma oportunidade rara e única de se encontrar com o Presidente Lula. E que encontro! Finalmente pôde "dizer" o que realmente pensa sobre a administração federal que está em curso.
O público presente à abertura dos Jogos Pan-Americanos certamente não era aquele que recebe os benefícios do Bolsa Família e nem tampouco por aqueles que ganham milhões na ciranda financeira. O público presente era formado por homens e mulheres brasileiras que há anos trabalham cada vez mais, para ganhar cada vez menos. Quem foi ao Maracanã teve a ousadia de "relaxar e gozar" nos aeroportos, na esperança de concretizar em tempo a sua sonhada viagem ao Rio de Janeiro, paga em muitas prestações... Trata-se de um público que certamente rezou muito, para pedir proteção durante a sua estada na Cidade Maravilhosa, em que pessoas são assassinadas à luz do dia, todos os dias, há anos, e nada acontece.
Os brasileiros que receberam Lula na sexta-feira, são profissionais cobrados incansavelmente por seus chefes sobre se atingiram ou não as metas (muitas vezes inatingíveis) que as empresas lhes impõem. São aqueles que precisam prestar contas, elaborar mil relatórios, indicar "dia e hora" para a solução de cada um dos problemas que encontraram no dia-a-dia dos trabalhos que estão sob sua responsabilidade. Trabalham sob a imensa pressão da economia atual (globalizada??!!) e do mercado de trabalho, inflado por milhões de desempregados, ávidos por uma oportunidade.
Os brasileiros do Maracanã precisam pagar a escola de seus filhos, o plano de saúde, a previdência privada, o estacionamento para os seus carros, o alarme para sua casa, enfim, pagam tudo em dobro: o Estado já lhe cobra por tudo isso, mas como não lhe entrega nada, a classe média, acuada, se vê obrigada a comprar todos os serviços que o Estado lhe prometeu e não entregou da iniciativa privada, na esperança de, assim, viver de forma mais digna, segura, etc.
O Presidente se encontrou com uma parte da população que se informa, que assiste aos programas de televisão e entende a mensagem dos telejornais. Trata-se de público que acessa a Internet, que assina jornais e revistas, um público difícil de enganar, que não se contenta com pouco, com meias verdades, com palavras vazias. Lula esteve com o cidadão que está indignado com tudo o que está acontecendo na esfera pública e, principalmente, com o que não está acontecendo: com a falta de punição àqueles que assaltam o país sob os holofotes sem que nada lhes aconteça, sem o medo de serem punidos um dia.
Trata-se, portanto, que uma parcela da população que não mais acredita em suas respostas evasivas, em sua maneira estranha de governar, segundo a qual o governante deve permanecer inerte, aguardando que o problema se resolva sozinho. Realmente trata-se de método de gestão jamais visto em qualquer manual de administração.
No Governo Federal, chega-se ao absurdo de manterem-se no cargo ministros que não respeitam o cidadão (ministra Marta Suplicy com sua frase célebre, é uma ícone desse tipo de "gestor"), outros que mentem sobre as causas da crise aérea (ministro Mantega, com a sua: "é o preço do desenvolvimento"), que são acusados de corrupção, não se desvencilham das acusações, e que o Presidente quer reconduzir ao poder (Ministro das Minas e Energia...). Enfim, aos piores gestores que a classe média já assistiu, dá-se a segunda chance. A classe média não tem a segunda chance e não quer que os gestores do Brasil a tenham. Ao contrário, espera avidamente para que se implante, com urgência, um programa de tolerância zero contra a incompetência no setor público deste país!
Alguém precisa dizer ao Presidente que ele não é vítima de nada, a não ser de si mesmo! Ele é o presidente de "todos os brasileiros" e por isso, precisa e tem o dever de ouvir a todos, sem distinção, sobre o que pensam da sua política de assistencialismo sem uma proposta de longo prazo que a legitime, que nos faça ver que o sacrifício de hoje valha a pena.
A classe média está cansada de dar o sangue e não ser ouvida. Precisamos saber: qual é o projeto do Presidente Lula para o país, como e quando será concretizado, qual o plano estratégico para atingir os resultados pretendidos?
Presidente: o que aconteceu no Maracanã não foi perseguição ou acidente, foi a manifestação democrática de parte da população brasileira que o elegeu e que não está satisfeita com o seu trabalho. É só.

* Valéria Barini De Santis é advogada do escritório Barini De Santis Advogados, mestre em Direito pela Universidade Mackenzie São Paulo, professora de Ética e Legislação Publicitária e de Direito Autoral nos cursos de Comunicação Social do Ipep Campinas

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