sexta-feira, 22 de junho de 2007

Liderança, em "efeito cascata"

Para Noel Tichy, no olimpo das empresas só há espaço para profissionais que desenvolvem os demais. Para ter sucesso no futuro, a organização precisa explorar a liderança latente de todos os seus funcionários - não apenas a dos profissionais de alto escalão. É o que defende Noel Tichy, professor de comportamento organizacional da Universidade de Michigan, e responsável pelo programa de formação executiva "Building The Leadership Engine". O norte-americano, que estará no Brasil na próxima semana para participar do Fórum Mundial de Alta Performance, a ser realizado pela HSM na terça e quarta-feiras, em São Paulo, falou com exclusividade a este jornal.

"Os líderes precisam ter um ponto de vista que possa ser ensinado e, dessa forma, desenvolver lideranças por todas as áreas da organização", afirma Tichy, que também atua como diretor da Global Business Partnership e da Global Leadership in Healthcare Program. Recentemente, ele lançou a Global Corporate Citizenship, iniciativa em parceria com a General Electric e a Procter & Gamble.

Tichy explica que o processo começa com a melhor equipe se comprometendo a ser instrutora - não consultora, professora, ou grupo de trabalho. "Um dos melhores exemplos foi Roger Enrico, quando era diretor-executivo e chairman da Pepsi-Co. Enrico administrou um programa de liderança para dez vice-presidentes numa certa época. O programa começava com uma estada de cinco dias no rancho dele em Montana (EUA), onde trabalhava por cinco dias com o grupo os temas liderança, estratégia e como estruturar um verdadeiro projeto de crescimento."

As sessões aconteciam às oito da manhã e à meia-noite, tendo só Enrico como instrutor. Os vice-presidentes retornavam para seus postos após cinco dias e tinham prazo de dois meses para começar a estabelecer um projeto de crescimento na área deles. Só então Enrico se reunia novamente com o grupo para uma oficina de três dias.

"Quando escrevi Leadership Engine, há mais de 20 anos, lancei a idéia de líderes como educadores e o ponto de vista de que se pode ensinar", lembra. Mas foi no livro seguinte, Cycle of Leadership, que aprendi que os sistemas de grande escala de ensino, tais como o Crotonville Leadership Center, da GE, que administrei nos anos 80, tinham de ser construídos."

Tichy lembra que, hoje, no Crotonville, o atual CEO, Jeff Immelt, ensina mais de uma vez por mês. "Nós organizamos programas similares com Paul Otilini, diretor-executivo da Intel, Phil Schoonover, diretor-executivo da Circuit City e do Royal Bank of Canada, assim como da Royal/Dutch Shell."

Na visão de Tichy, essa plataforma de ensinamento prático de nível avançado capacita os líderes tanto a ensinar quanto a aprender. "Não há espaço no primeiro escalão de uma organização competitiva para líderes que não ensinem e desenvolvam outros líderes. Não tenho qualquer dúvida disso, seja um líder-instrutor ou vá para casa", enfatiza. "O poder dos líderes está no ensinamento e no desenvolvimento de outros líderes. Isso ocorre quando se tem uma visão, que pode ser transmitida e levar os outros líderes a desenvolverem seus próprios pontos de vista, que também podem ser ensinados, de modo a desenvolver mais lideranças."

Este seria um ciclo virtuoso de ensino, no qual os instrutores também aprendem com os estudantes, tornando todos mais inteligentes e alinhados com o processo. "A melhor forma de promover o conhecimento é por meio do 'ensino em cascata'", afirma. "Comece com a melhor equipe. Em geral, leva três dias de workshop para fazê-los desenvolver claramente um ponto de vista ensinável deles", explica. "Nós fizemos isso com Brad Anderson, diretor-executivo da Best Buy", conta. A Best Buy é a maior rede de eletroeletrônicos dos Estados Unidos.

Tichy diz que esse processo de ensino em cascata tem funcionado no mundo inteiro com a Royal/Dutch Shell, no Brasil, na Argentina, na África do Sul e na Austrália, assim como nos Estados Unidos e na Europa. "Conduzimos ensinos em cascata ainda na China e na Índia", afirma. "Para ser uma organização educativa de classe mundial, é necessário compromisso total, todos têm de estar envolvidos. Segundo ele, é simples. "Estimula-se todos a empenhar coração e mente na organização. Além de gerar aprendizado, estará motivando o desempenho."

Gazeta Mercantil, Vida Executiva, Carolina Sanchez Miranda, 22/06/2007

Nenhum comentário: