quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Conflitos sob controle no escritório
Gestores dedicam um quinto do seu tempo à resolução de problemas entre colegas de empresa. Num belo dia, você envia um e-mail despretensioso para um grupo de colegas, fazendo uma brincadeira com um companheiro de trabalho. Ao contrário da reação esperada, a "vítima" revolta-se com a gozação e responde para o grupo todo, com várias ofensas pessoais. Pronto: está criado um sério conflito, que pode gerar problemas - especialmente para você e seu desafeto - no ambiente profissional. A situação acima não é hipotética. Aconteceu, de verdade, com um executivo da área de vendas e estatísticas de uma multinacional do segmento fumageiro, em Porto Alegre. O profissional, que prefere não se identificar, revela que, em função dos insultos recebidos após a frustrada brincadeira virtual, chegou a cogitar uma retratação do colega - um superior hierárquico, mas não direto - na Justiça. Acabou demovido da idéia pelo chefe imediato. Mas isso não melhorou o péssimo clima entre os executivos, que conviveram por um ano e meio com a situação, até que o autor das ofensas saísse da empresa. "A gente não pode esperar muito tempo para tomar uma atitude. Eu sabia que era preciso tentar uma reparação imediata", diz o autor da malsucedida piada. Nos meses seguintes, o problema acabou virando pessoal e, mais do que isso, profissional. Segundo o executivo, que permanece até hoje na companhia, em muitos momentos ele e o colega deixaram de se reunir e falar sobre assuntos inerentes ao andamento do trabalho. Ou seja, o conflito pessoal acabou prejudicando diretamente a atuação de ambos no trabalho. O que lhe valeu uma importante lição. "Depois disso, comecei a ser mais severo comigo mesmo. Tem certas brincadeiras que a gente não pode fazer", admite. Casos como esse são corriqueiros e acontecem a toda hora, em qualquer tipo de empresa. "Os conflitos são bastante comuns. Hoje em dia os gestores e administradores dedicam 20% do tempo ao gerenciamento de conflitos, não só com funcionários, mas também com gestores e funcionários", diz a consultora Patrícia Próspero, da Instrumentos de Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo ela, geralmente os conflitos tendem a ser interpretados de forma negativa pela empresa. Entretanto, 80% deles podem ser usados de forma positiva. "Quando você entende que a opinião do outro é divergente e pode ser complementar a sua, isso torna a discussão produtiva. Assim, você passa a entender o modo de ver dos outros. Mas isso só é possível quando estão envolvidos profissionais mais maduros." A consultora sênior da Career Center, Mara Turolla, afirma que a maior parte dos conflitos resulta de falta de afinação em relação ao estilo de trabalho, de comunicação ou mesmo empatia entre os colegas. Segundo ela, o profissional precisa saber o que busca no ambiente profissional. Nesse sentido, diz ela, um dos erros mais comuns é esperar que os colegas venham a se transformar em amigos próximos, suprindo eventualmente a falta de relações deste gênero fora do ambiente profissional. Quando isso não acontece, às vezes, a frustração faz com que muitos executivos acabem deixando a situação degringolar. "Antigamente, o ambiente profissional era afável. Hoje, ninguém mais tem tempo para nada. Entretanto, não é porque o relacionamento é distante que precisa ser ruim", garante Mara. Na opinião de Patrícia Próspero, da IDH, os maiores problemas acontecem quando o choque de idéias se transforma em uma questão pessoal. "A pessoa precisa ter consciência quando um conflito que poderia ter sido evitado está virando uma desavença pessoal. Nessas situações, deve procurar conversar abertamente com a outra para que o conflito possa passar a ser positivo." Escapando com estilo De acordo com a consultora, existem cinco estilos básicos de comportamento, que podem ajudar o profissional a se sair bem diante de um conflito. Não há um estilo certo ou errado, mas sim o mais adequado a cada situação. "Existem muitos conflitos positivos. O gestor precisa saber qual estilo adotar, para tirar melhor proveito de uma situação", explica Patrícia. O primeiro é o estilo competitivo, que se impõe pela qualidade da argumentação e da própria postura. "Em um grupo de bastante gente assertiva, o profissional precisa usar firmeza e personalidade na informação que está passando." O perfil colaborador, por sua vez, tenta trabalhar com o colega e encontrar uma solução considerada boa por ambos. Já o conciliador enxerga uma solução rápida e prática, que não compromete a posição defendida por nenhuma das partes. Assim, ele não necessariamente precisa trabalhar junto com o colega e, de certa forma, também não abre mão da competitividade. Além destes estilos, ainda existem o driblador e o harmonizador. O primeiro, que pode ser aplicado por um gerente recém-contratado, por exemplo, geralmente evita todos os tipos de conflito possíveis. "Para ele, primeiro, é importante conhecer a empresa e sua cultura, para depois passar a atuar da sua maneira", explica Patrícia. Já o harmonizador é aquele que, muitas vezes, abre mão de seu interesse para evitar a briga. "Neste caso, o profissional corre o risco dessa generosidade se tornar bastante negativa, especialmente se o objetivo for simplesmente agradar o outro", adverte a consultora
Gazeta Mercantil, Vida Executiva, Marcelo Monteiro, 19/09/2007

 

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