terça-feira, 7 de agosto de 2007

A vida pode ficar 90% mais fácil
Nos quatro livros que escrevi, um tema nunca deixado de fora é a superação de obstáculos. Afinal, não se pode falar em sucesso sem mencionar a capacidade de virar a mesa, de lidar com os revezes cotidianos e ir em frente, de não permitir que um contratempo se transforme em uma barreira intransponível.
Nas dezenas de pesquisas e entrevistas que fiz para reunir dados para os livros, e também por meio do contato que tenho com homens e mulheres de negócios, percebi que essa é uma característica presente no perfil de todos os empreendedores bem-sucedidos: a capacidade de superação.
Mas de onde vem essa capacidade? Alguns acham que certas pessoas já nascem com a capacidade de superação impressa em seus genes. Outros acreditam que os vencedores são privilegiados, gente capaz de fazer coisas que a maioria dos mortais não consegue. A resposta, contudo, é bem mais simples. A capacidade de superação vem de uma postura de vida na qual os problemas são encarados com objetividade.
Quem assume essa postura analisa a situação de forma equilibrada, usa de bom senso na hora de avaliar os prós e os contras e define a linha de ação mais adequada, poupando-se do inútil desgaste de fazer tempestade em copo d'água. Isso seria, em linhas gerais, o que Stephen Covey, autor do best seller Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes, chama de princípio 90/10.
De acordo com esse princípio, 10% da vida estão relacionados com o que se passa com você. Noventa por cento, porém, estão relacionados com a forma com que você reage ao que se passa consigo próprio. O conceito, aliás, encontra paralelo em recentes pesquisas científicas a respeito do estresse. De acordo com essas pesquisas, não são exatamente as situações difíceis com as quais você se depara que causam o estresse, mas sua reação a elas.
Prova disso é que duas pessoas submetidas a mesma situação podem apresentar respostas totalmente diferentes: Enquanto uma se desespera, a outra mantém o sangue-frio e tenta colocar o foco de sua atenção na solução do problema. E muitas vezes o problema é, em sua origem, muito menor do que parece. Contudo, nossa resposta exagerada - o que em inglês recebe onome de over reaction - acaba por gerar uma cadeia de eventos incontroláveis, transformando algo que inicialmente era simples em uma bola-de-neve.
Suponha que uma pessoa está se dirigindo para uma importante reunião, mas o trânsito está ruim. Ela olha para o relógio com impaciência, grita, xinga, buzina... Irritadíssima, resolve tentar uma manobra imprudente e acaba batendo o carro. Segue-se uma longa e estressante discussão no meio da rua. Seu carro é guinchado e ela tem de tomar um táxi. No caminho, impacienta-se com o motorista e lhe diz o tempo todo para ir mais rápido, o que deixa o taxista nervoso e o faz errar a direção.
Por fim, a pessoa chega à reunião com duas horas de atraso, tensa, mal-humorada e... descobre que esqueceu sua pasta de documentos no carro. Essa pessoa depois dirá que teve um dia de cão. Mas será que teve mesmo, ou foi ela própria quem criou seu dia de cão? Apenas 10% do que lhe aconteceu estava realmente fora de seu controle - o trânsito ruim. Todo o resto foi conseqüência de sua reação exagerada à situação.
Nas situações mais complexas, o processo não é muito diferente. Se problemas corriqueiros podem assumir proporções absurdas por causa de nossa reação, imagine o que acontece com os grandes problemas. Pense nisso. Sua vida pode ficar noventa por cento mais fácil.
Gazeta Mercantil, Vida Executiva, Ricardo Bellino, 06/08/2007

 

Nenhum comentário: